2009
41ª Anual de Arte FAAP
Museu de Arte Brasileira - MAB-FAAP = São Paulo, Brasil
Fotos: Pablo de Souza

por Marcos Moraes
A Anual de Arte FAAP, desde 1999, insere um artista homenageado, ou ainda convida um artista a apresentar sua produção, possibilitando com esta inserção na mostra dos alunos um diálogo – de diferentes naturezas – a cada edição da mostra. Na 41ª Anual o convite foi feito para Marina Ayra.
Formada em Arquitetura e Urbanismo, na Faculdade de Artes Plásticas e, paralelamente, desenvolvendo um trabalho em poética visual, a artista apresenta uma seleção dos trabalhos realizados no período em que esteve na Cité des Arts, em Paris, no Programa de residência artística que a FAAP mantém com aquela instituição, desde 1997.
Se o inicial projeto de poética visual – em desenho e pintura – propunha o desenvolvimento de pesquisas em torno das questões relativas à paisagem e à cidade, presentes em sua investigação desde seu trabalho final de graduação; o período na residência proporcionou uma ampliação desta a partir do contato com referências da cultura visual europeia e parisiense, claramente identificáveis, particularmente ao universo do Art Nouveaue de artistas a ele vinculado, visíveis nas menções que os trabalhos selecionados apresentam.
Nas palavras da artista “Paris é visualmente incrível, tudo que eu vejo e vivo aqui vai para a tela ou para o papel, com certeza. Não significa que faço um retrato da cidade, mas misturo as percepções que tenho aqui com o que já existia dentro de mim e vejo, ao desenhar, o resultado disso”.
Além da seleção de obras, integrou a mostra uma seleção de documentos e do material processual que possibilitaram um olhar sobre o período em que a artista esteve em Paris, e a pesquisa desenvolvida por ela ao longo dos seis meses de sua residência artística. A oportunidade de apresentar, paralelamente, tanto a produção, quanto material processual – referências explícitas ao processo de residência artística – afirma a importância atribuída a esse instrumento de pesquisa e trabalho, que é o da residência, reconhecendo seu papel no processo de desenvolvimento artístico profissional.
Ainda retomando a reflexão da artista sobre seu processo “Uma residência artística como essa permite que a gente tenha tempo disponível para se atentar a coisas maravilhosas que normalmente, com a loucura da vida em São Paulo, acabamos por deixar de lado. E elas são tão importantes! É um grande aprendizado sobre nós mesmos, sobre o nosso trabalho, o que queremos. É um tempo disponibilizado exclusivamente para a criação, o trabalho cresce muito ...”.
Como uma das ações mais características das práticas artísticas contemporâneas, a residência deve ser considerada um local propício para as trocas, por permitir o convívio, em meio a uma possibilidade de retiro e dedicação individual; bem como por ser um espaço para as oportunidades de estabelecer contatos com artistas e participar de atividades locais, incluindo a participação de integrantes da comunidade nos projetos, pesquisa e produção do trabalho do artista residente.
Essas características – trocas, convivência, isolamento, dedicação, contatos pessoais e culturais – surgem de forma unânime nos depoimentos dos artistas que participam dos programas de residência artística, e podem ser depreendidas também nas palavras de Marina Ayra, acentuando o papel desses programas.
A residência é um espaço, uma condição, em uma relação aberta, que não contém em si sua finalização, e devemos pensá-la como algo que não se circunscreve ao lugar físico, nem espaço temporal na qual pode acontecer, mas no devir que implica esta situação.