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2024

 

Como construir uma paisagem

CasaBASA - São Paulo/SP​

Curadoria: Vitor Mazon

Vista da exposição

Como construir uma paisagem, por Vitor Mazon

A paisagem nunca é um dado estático, mas um organismo em constante construção. Ela se inscreve em um entrelaçamento de presenças e ausências, memórias e fragmentos, vidas humanas e não humanas. Não basta vê-la como um quadro pendurado na parede ou um cenário fixo à espera de contemplação: ela emerge da interação contínua entre seus elementos, em uma teia dinâmica de relações que se refaz a cada instante.

Um espaço vazio, uma pedra gasta coberta de musgo, o fluxo de um riacho ou a quietude de um lago — cada detalhe carrega em si camadas de histórias e significados. A paisagem é tanto o visível quanto o que se esconde sob a superfície: raízes que conectam mundos subterrâneos, líquens que resistem à passagem do tempo, sombras que vagam silenciosas e transformam o que parece imutável. É o chão que respira, as árvores que sussurram, o céu que nunca se fixa. Mesmo o horizonte, sempre em transformação, desafia a noção de permanência.

Essa multiplicidade exige o olhar atento, o corpo presente, a memória ativa. Cada fragmento — uma folha caída, um pedaço de concreto, um galho retorcido — encontra sentido na rede maior que o envolve. É a convivência de elementos aparentemente desconexos que dá forma ao espaço, que o transforma em paisagem. E nesse processo, o espectador é mais que um observador: é um participante, um narrador que, ao conectar os fragmentos, cria significados únicos e irrepetíveis.

A paisagem é, portanto, uma experiência coletiva. Não é apenas o que está diante dos olhos, mas o que se insinua nas margens do olhar. É a memória de quem a percorre, o gesto de quem a transforma, o silêncio que a reinventa. Como um organismo vivo, ela respira, mesmo na ausência; refaz-se, mesmo na quietude. Não se limita ao que já foi ou ao que é agora, mas carrega em si a promessa do que pode vir a ser.

Convidar o público a reconhecer essa complexidade é também um convite à reflexão. A paisagem se revela na atenção aos detalhes, nas interações que parecem efêmeras, mas que moldam o espaço de maneira profunda. É um fluxo contínuo, um diálogo incessante entre o humano e o não humano, entre o que vemos e o que deixamos de ver. Reimaginar a paisagem é reimaginar o mundo — e, talvez, a nós mesmos.

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